Exposição "Siza antes do Siza. Álvaro Siza L'Opera Prima" abriu ao público
A exposição, com curadoria de Massino Curzi, esteve patente no espaço Casabella laboratorio em Milão, aquando do lançamento do número 896 da Casabella, edição totalmente dedicada à primeira obra de Álvaro Siza, as “4 Casas” localizadas em Matosinhos (1954-1956).
Focamo-nos, com esta exposição, na primeira obra do arquitecto português Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira. Uma obra de menor importância, ou assim parece, face às muitas que se lhe seguiram, por ter sido feita era o autor muito jovem. Apesar disso, cremos que já nestas casas é possível reconhecer todas as características da sua personalidade.
Um dos objectivos desta iniciativa é também o de estimular os estudantes a acreditarem nas suas habilidades, nos seus dons, nas suas sensibilidades, a estarem receptivos às novas tendências sem esquecerem a história — que, tal como o trabalho de Siza nos mostra, nos ensina sobre as constantes fundamentais do projeto arquitetónico.
Dada a especificidade da experiência narrada pela exposição, o objectivo é também mostrar a importância de ter um guia, um mentor que encoraje o jovem autor, tal como aconteceu a Siza: alguém que lhe permitiu ir mais longe, enquanto o guiava com gentileza e confiança.
Ao preparar os conteúdos desta exposição, destacou-se a dimensão efectiva dos desenhos de Siza, que indicam que o jovem arquitecto português — que à data teria 21 anos — verteu os seus pensamentos em folhas de papel de tamanho ainda ajustado aos de uma mesa em casa. Talvez seja essa a razão por trás dos detalhes desenhados em tamanho real, mas não em painéis de grande formato, que podem ser apreciados hoje como os primeiros passos de uma prática que acabaria por evoluir muito rapidamente. Observando os desenhos feitos para as quatro casas construídas em Matosinhos, fica claro que o foco central de cada reflexão é o homem, a sua medida, as suas proporções, os seus gestos, no projectar a moradia, no dar forma aos espaços, no conceber do mobiliário. O homem torna-se a unidade de medida, o ponto de partida, o elemento plástico presente no espaço, imerso numa luminosidade que o toca, mas ao mesmo tempo roça materiais e superfícies, organizando as salas e locais de habitação de acordo com a sua trajectória quotidiana.
Siza revela desde esse primeiro momento um dom inato para trabalhar tridimensionalmente e com cortes transversais. Os espaços verdes em torno das casas combinam-se com o espaço interior a níveis exactos, a ele ligados através de degraus ou rampas; os interiores são realçados pela complexidade dos pontos de vista em diferentes níveis, transformando-se num palco para a vida no dia-a-dia.
O mesmo acontece com a luz do tecto, implantada com precisão para iluminar passagens especiais das construções, como sejam os degraus de uma escada ou o ponto de encontro entre duas superfícies.
O jovem Siza — de acordo com as palavras do próprio, quando falou sobre o seu primeiro projecto no n.º 896, de April de 2019 da revista Casabella, que acompanha esta exposição —, foi estimulado pela leitura de revistas, pelas histórias e lições do seu professor e mentor Fernando Távora, mas, acima de tudo, aprendeu muito a partir das visitas diárias ao estaleiro da obra, da sua interacção com os trabalhadores, que lhe ensinaram os truques do ramo na prática, os fundamentos da boa construção.
É também por estes motivos que a exposição ajuda a mostrar o quanto a profissão do arquiteto mudou desde a primeira metade da década de 1950 até ao presente, em que os designers são obrigados a viver numa era de crença cega na separação de diferentes formas de especialização, na hierarquia de papéis, uma época em que discutir diferentes opções com os trabalhadores no estaleiro de obras se tornou praticamente impossível.
Esta exposição é, portanto, um convite à reflexão sobre o actual papel do arquitecto e, ao mesmo tempo, uma viagem para saborear devagar, com a mesma ligeireza que redescobrimos nos traços de caneta do nosso herói português, acérrimo defensor da natureza humanística do trabalho do arquitecto.
Massimo Curzi
Focamo-nos, com esta exposição, na primeira obra do arquitecto português Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira. Uma obra de menor importância, ou assim parece, face às muitas que se lhe seguiram, por ter sido feita era o autor muito jovem. Apesar disso, cremos que já nestas casas é possível reconhecer todas as características da sua personalidade.
Um dos objectivos desta iniciativa é também o de estimular os estudantes a acreditarem nas suas habilidades, nos seus dons, nas suas sensibilidades, a estarem receptivos às novas tendências sem esquecerem a história — que, tal como o trabalho de Siza nos mostra, nos ensina sobre as constantes fundamentais do projeto arquitetónico.
Dada a especificidade da experiência narrada pela exposição, o objectivo é também mostrar a importância de ter um guia, um mentor que encoraje o jovem autor, tal como aconteceu a Siza: alguém que lhe permitiu ir mais longe, enquanto o guiava com gentileza e confiança.
Ao preparar os conteúdos desta exposição, destacou-se a dimensão efectiva dos desenhos de Siza, que indicam que o jovem arquitecto português — que à data teria 21 anos — verteu os seus pensamentos em folhas de papel de tamanho ainda ajustado aos de uma mesa em casa. Talvez seja essa a razão por trás dos detalhes desenhados em tamanho real, mas não em painéis de grande formato, que podem ser apreciados hoje como os primeiros passos de uma prática que acabaria por evoluir muito rapidamente. Observando os desenhos feitos para as quatro casas construídas em Matosinhos, fica claro que o foco central de cada reflexão é o homem, a sua medida, as suas proporções, os seus gestos, no projectar a moradia, no dar forma aos espaços, no conceber do mobiliário. O homem torna-se a unidade de medida, o ponto de partida, o elemento plástico presente no espaço, imerso numa luminosidade que o toca, mas ao mesmo tempo roça materiais e superfícies, organizando as salas e locais de habitação de acordo com a sua trajectória quotidiana.
Siza revela desde esse primeiro momento um dom inato para trabalhar tridimensionalmente e com cortes transversais. Os espaços verdes em torno das casas combinam-se com o espaço interior a níveis exactos, a ele ligados através de degraus ou rampas; os interiores são realçados pela complexidade dos pontos de vista em diferentes níveis, transformando-se num palco para a vida no dia-a-dia.
O mesmo acontece com a luz do tecto, implantada com precisão para iluminar passagens especiais das construções, como sejam os degraus de uma escada ou o ponto de encontro entre duas superfícies.
O jovem Siza — de acordo com as palavras do próprio, quando falou sobre o seu primeiro projecto no n.º 896, de April de 2019 da revista Casabella, que acompanha esta exposição —, foi estimulado pela leitura de revistas, pelas histórias e lições do seu professor e mentor Fernando Távora, mas, acima de tudo, aprendeu muito a partir das visitas diárias ao estaleiro da obra, da sua interacção com os trabalhadores, que lhe ensinaram os truques do ramo na prática, os fundamentos da boa construção.
É também por estes motivos que a exposição ajuda a mostrar o quanto a profissão do arquiteto mudou desde a primeira metade da década de 1950 até ao presente, em que os designers são obrigados a viver numa era de crença cega na separação de diferentes formas de especialização, na hierarquia de papéis, uma época em que discutir diferentes opções com os trabalhadores no estaleiro de obras se tornou praticamente impossível.
Esta exposição é, portanto, um convite à reflexão sobre o actual papel do arquitecto e, ao mesmo tempo, uma viagem para saborear devagar, com a mesma ligeireza que redescobrimos nos traços de caneta do nosso herói português, acérrimo defensor da natureza humanística do trabalho do arquitecto.
Massimo Curzi