Fotografias da Arquitetura Bauhaus em Tel Aviv

Tendo como foco os fragmentos dos edifícios construídos nos anos 30 do século XX, as fotografias examinam a adaptação da cidade à influência Bauhaus exercida por arquitetos que trabalharam em Tel Aviv nos anos 1930. A Tel Aviv dos anos de 1930 e 1940 foi uma espécie de laboratório onde os arquitetos, formados em vários países europeus, criavam nas margens do Mediterrâneo um “modernismo modificado”. A maioria das estruturas de Estilo Internacional em Tel Aviv são edifícios residenciais modestos, construídos para albergarem as vagas de imigrantes oriundos da Europa durante esses anos.
A importância das várias tendências do movimento Modernista na arquitetura e no urbanismo da cidade foi um dos factores considerados pela UNESCO na atribuição do título de Património Mundial da Humanidade a Tel Aviv – a White City - em 2003.
As perspetivas nítidas e composições dinâmicas que são inerentes a este trabalho, ecoam, à sua maneira, a fotografia de vanguarda dos anos 30. O uso da cor, acentuada pela luz local, ressalta os atributos da arquitetura modernista e da cidade que ela formou.
A exposição é uma parceria entre a Casa da Arquitectura, Embaixada de Israel em Portugal e a Fundação EDP por ocasião dos 100 anos da Bauhaus.
As 30 fotografias, que pertencem ao livro "Fragments of a Style" de Yigal Gawze, convivem no espaço da exposição com quatro vídeos sobre a vida na cidade de Tel Aviv e a Bauhaus. Vários suportes documentais (impressos e audiovisuais) convidam o visitante a explorar os 14 anos da escola Bauhaus, fundada em 1919, bem como o seu legado em todo o mundo.

A LUZ E A CIDADE BRANCA

A realização do projeto fotográfico
Quando eu vivi em Paris nos anos noventa, costumava visitar Tel Aviv e foi nessa altura que redescobri a sua herança cultural dos anos 1930. As fachadas brancas dos edifícios ‘Bauhaus’ que tinham sido recentemente restaurados, despertaram a minha atenção.
Ser “um turista na minha própria cidade” tem as suas vantagens, os meus olhos não davam nada por garantido e tornavam-se mais sensíveis à paisagem urbanística de Tel Aviv. Levei a minha máquina fotográfica e dei início a uma longa investigação, com a missão de capturar a beleza, que há muito tempo estava escondida por ali.
Enquanto olhava para cima e via as fachadas brancas com o azul profundo do céu de inverno a servirem como pano de fundo ideal, fui atraído para composições dinâmicas que eu podia recriar. Os ângulos marcantes, que só por si, são um tributo à fotografia avant-garde dos anos 1920, encontravam assim o seu equilíbrio logo que entrava nos edifícios. Aqui, os meus olhos focaram-se no know-how e nos atributos do passado presentes nos detalhes refinados das balaustradas, escadas e janelas que, apesar da deterioração da tinta e dos acabamentos, tinham a marca visível do Estilo Internacional.
A passagem da luz direta para uma luz mais difusa é semelhante à passagem do movimento de um espaço público para um semiprivado. Este ritmo foi pautado por momentos de inspiração, onde a luz certa incidia sobre a superfície ou preenchia o espaço. Foi uma espécie de encontro privilegiado, umas vezes planeado, outras vezes por acaso, onde as coisas se encaixavam e se fundiam.
Desde o início, escolhi focar-me em fragmentos. Senti que poderia captar o espírito do Estilo Internacional ao centrar-me numa parte essencial da estrutura que carrega consigo o código genético do todo. Foi também uma tentativa em transmitir um pouco a utopia dos anos que viram a construção da “Cidade Branca”. Apenas na última parte do trabalho, dei um passo atrás para me relacionar com o edifício no seu todo e a sua relação com a rua e a cidade à sua volta.
Ao contrário do que fiz com os documentos históricos e algum do trabalho fotográfico moderno desenvolvido sobre o assunto, escolhi trabalhar a cores. Esta escolha pareceu-me óbvia porque põe em relevo a natureza deste encontro muito especial que acontece em Tel Aviv - entre um estilo de construção que tem a sua origem na Europa e na luz do Mediterrâneo.
Trabalhar com luz natural tem sido desde sempre a minha paixão. Neste projeto deparei-me com a dupla tarefa de dominar a luz local, conhecida por ser difícil de trabalhar e, ao mesmo tempo, lhe dar o carácter e a atmosfera que ela cria. Assim sendo, o meu trabalho fotográfico é de certa forma um eco da tentativa dos arquitetos, que trabalharam em Tel Aviv nos anos 1930, para criarem uma nova linguagem arquitetónica baseada nas suas raízes europeias.
As imagens contribuem para criar um retrato de um local único, revelando a essência poética da sua arquitetura e o papel que a luz desempenha em moldá-lo. Além do sentido óbvio de nostalgia, o Modernismo encontra-se aqui no seu máximo esplendor.

© Yigal Gawze 2019

Biografia

Yigal Gawze

Yigal Gawze é um fotógrafo, artista e um explorador da Bauhaus em Tel Aviv, onde nasceu.
Estudou arquitetura na Escola de Arquitetura da Universidade de Toronto, e após ter exercido a profissão durante alguns anos em Israel, prosseguiu os seus estudos na École nationale supérieure des Arts Décoratifs em Paris.
Como jornalista freelancer baseado em Paris durante os anos 1990, Gawze colaborou com revistas europeias e israelitas nas áreas do design, arquitetura e estilo de vida. Durante esse período, começou a explorar a arquitetura Modernista dos anos 1930 de Tel Aviv - um projeto que acabaria por evoluir para o ensaio fotográfico Fragmentos de um estilo que resultou numa exposição e na publicação do livro Form and light | from bauhaus to tel aviv (Hirmer, 2018).
Na sua arte, Yigal Gawze explora quer o espaço público da paisagem urbana, quer o privado, aquele que faz parte do seu ambiente mais próximo. Em ambos, o artista foca o fragmento como meio de revelação da essência do todo.
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